quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Não está faltando babá, está faltando escravo"

*Post de autoria de Gizelli Sousa e colaboração de Thaís Campolina

A frase que dá título a esse texto é do Sindicato da categoria. Ontem, Um dia após o Dia do Trabalhador foi veiculada uma reportagem no portal do G1 cuja manchete era “Na caça a babás, mães de SP usam psicóloga 'head hunter' e Facebook”. A reportagem se assemelha a uma piada de mau gosto. Em um trecho, que merece destaque, uma das mães/patroas afirma: "O nível cultural delas melhorou demais, e a informação corre muito rápido. Elas agora são politizadas, descobriram o que é ter vida pessoal. Isso para nós, patroas, é pior".


Essa afirmação e outras tantas que demonstram descaso pelos direitos trabalhistas das babás, de conteúdo elitista e que consideram como empregado bom é aquele que vive em função do patrão e não tem vida pessoal, vieram acompanhadas de nome, sobrenome e profissão. Essas pessoas não tem qualquer vergonha de desvalorizar o trabalho alheio com base nos próprios preconceitos. 

Ao longo da reportagem, percebe-se que o cuidado dos filhos é visto como uma responsabilidade da mãe, não se fala em nenhum momento sobre os pais. A função de "cuidar" é considerada inerente à "natureza feminina". Por isso além de não se falar em responsabilidade paterna, profissões como a de babá em geral são marcadas pela divisão sexual do trabalho. São quase que unicamente femininas. 

O trabalho exclusivamente feminino é considerado de segunda classe, estão aí as empregadas domésticas para comprovar. Essa categoria profissional é a mais vilipendiada de todas. As domésticas não dispõem de limitação de jornada de trabalho, fundo de garantia por tempo de serviço (que fica a cargo do empregador), seguro desemprego ou benefício por acidente de trabalho. Está óbvio que esse fato beneficia as classes mais abastadas da sociedade e é reminiscência dos períodos de escravidão. 


Não obstante, as profissões de babá e de empregada doméstica são cercadas de preconceitos classicistas e protestos de negação de direitos trabalhistas. E ainda é matéria de um dos maiores portais de notícia do país o fato da profissão de babá se valorizar. Isso porque em geral os trabalhos ditos femininos são desvalorizados. Por exemplo, ainda hoje, não existe a profissão "dona-de-casa". A mulher que trabalha em casa em casa enquanto o marido trabalho fora sofre julgamento de valor. Como se o trabalho da dona de casa não fosse trabalho meramente porque não é remunerado. Essa característica o torna invisível e privado.


Mesmo o trabalho feminino que não é marcado pela divisão sexual é mal remunerado se comparados aos salários pagos aos homens para desempenhar a mesma função. Na sociedade em que vivemos, o dinheiro é a medida do poder. Não garantir às mulheres as mesmas condições de trabalho e remuneração que os homens é retirar-lhes das mãos qualquer possibilidade de empoderamento.

10 comentários:

  1. Ótimo texto, mostra bem o q as empregadas domésticas sofrem. Parabéns pelo blog, muito bom.

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  2. Eu não acredito. Tem gente que acha que sofativismo tem alguma utilidade e acredita no sofativismo? Piada pronta.

    Agora eu entendi o intuito desse texto (bem como de todo blog): Fazer rir. Ri muito com esse texto.

    Valeu pelas risadas.

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    1. http://www.reactiongifs.com/wp-content/uploads/2012/05/get-out.gif

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    2. Depois de muita reflexão, eu entendi o motivo do Luís comentar em algo tão "inferior" como esse texto/blog: mostrar que estava fora do universo no último ano e nem ficou sabendo do papel das redes sociais em diversos movimentos sociais como a Primavera Árabe.

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    3. Eu entendi o motivo do Luís comentar em algo tão inferior: foi ele que fez aquela busca "buceta + mulher + depilada" no google, caiu aqui e ficou puto por não ser exatamente o que ele esperava; será que sim ou será que com certeza?

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    4. Nossa Thaís. Eu pensei que quem derrubou o cara lá do Egito foi o pessoal que botou a cara na rua, sujeito a levar borrachada, esguichada e spray de pimenta da polícia e ocupou a praça Tahrir.

      Mas já que você disse que o que derrubou o cara lá do Egito foi o pessoal que ficou com o cuzinho grudado na cadeira xingando muito no Twitter, então eu acredito. Então eu começo a acreditar que o sofativismo serve para alguma coisa, tá? (NOT!).

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    5. Problemas de interpretação, a gente vê por aqui. A menine fala do papel das redes sociais no processo como um todo e o cara vem falar em quem derrubou o ditador, como se tudo tivesse acontecido num vácuo, sem preparação real e também virtual (olha só!) antes. Porfa, né.

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    6. Flávia, ele deve ser um cara muito ativo que se manifesta diariamente nas ruas, com cara pintada, cartaz levantado, apanhando de policiais e afins, ele sabe como funciona o mundo e nós, coitadinhas, não sabemos. Ele veio aqui nos iluminar com sua sabedoria e conhecimento sobre ativismo, militância e afins.

      (O que eu acho mais engraçado dos ativistas de lugar nenhum contra o ativismo de sofá é que eles além de ignorarem completamente o poder do discurso e de como ele é importante para o reconhecimento de direitos e da legitimidade das próprias lutas, eles realmente acham que sabem o que a gente faz no nosso cotidiano pra lutar por um mundo melhor).

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    7. Tá bom. Então me respondam uma coisa: Por que o #forasarney não deu em nada? O #forasarney estava cheio de ativistas e revolucionários de sofá.

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    8. Meu bem, você não está entendendo o nosso ponto. Você leu o nosso texto sobre o assunto? http://ativismodesofa.blogspot.com.br/2012/03/ativessevocetambemcom.html

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